Texto e fotos: Trinity Ronzella
Fazia muito tempo que não percorria um roteiro tão bonito!
Falo com frequência que o Brasil tem muitos lugares incríveis para conhecer e, melhor ainda, de moto! E quando falo isso, não é da boca pra fora, já rodei bastante por esse Brasilzão e, não sei porque, demorei tanto tempo para percorrer esse roteiro.
Esse texto é para que você coloque esse roteiro no radar, se prepare, se organize e vá, pois será uma experiência incrível.
Fui convidado pelos amigos do Crubinho, Maurício e Alexandre, para me juntar a eles no rolê, olhei agenda, ajustei algumas coisas, e fui!
O roteiro
Existem várias vertentes do Caminho da Fé, resolvemos fazer o tradicional, que liga Águas da Prata, cidade paulista na divisa com Minas Gerais, com Aparecida do Norte, às margens da Dutra.
Ao todo, 90% do trajeto é por estradas de terra com alguns pontos de asfalto, poucos. Passa por dentro de cidades, vilarejos, bairros, distritos, enfim, bem diversificado.
O roteiro conta com apoio de lugares para se hospedar e se alimentar em todo percurso, mas é bom ter um planejamento prévio, pois as vezes as pousadas lotam.
Nosso roteiro deu aproximadamente 300 km, e optamos por descer pelo bairro do Gomeral em Campos do Jordão devido às paisagens do roteiro. Esse é chamado de ramal principal, fora ele existem outras duas opções de se chegar a Aparecida.
Cronograma
Nos encontramos na quinta-feira à noite em Águas da Prata. Estávamos em três com , duas GS e uma África DCT. A idéia era fazer o roteiro em até três dias, com a primeira parada para dormir antes da Serra da Luminosa e chegar em Aparecida no segundo dia, deixando o terceiro dia para retornar para casa mas, nada que não pudesse ser mudado, tínhamos tempo, o que foi muito importante para aproveitarmos bem o caminho.
Primeiro dia
Saímos da Pousada do Peregrino tarde, por volta das 8 da manhã com tanques cheios e alimentados, estávamos tranquilos. Esse primeiro dia é importante para acostumar o cérebro a buscar sempre as setas amarelas que estão espalhadas pelo caminho todo, simples de acompanhar e divertido. Subimos sentido o Pico do Gavião, passamos pela Serra dos Limas em Andradas, Crisólia, até chegarmos a Ouro Fino, onde paramos na famosa estátua do Menino da Porteira, fotografamos e fizemos um lanche na barraquinha que tem na rotatória. Dica: o pão com linguiça que tem lá é imperdível!
Até aí sem dificuldades. Estradas boas, uma travessia de água tranquila e muita paisagem! Encontramos um grupo de moto da região de Campinas, batemos papo e descobrimos que um deles era amigo do Maurício! Mundo pequeno, seguimos!
O caminho segue no mesmo esquema: terra, pedras, paisagens, romeiros, ciclistas e até gente à cavalo, cada passagem por esse pessoal sempre reduzimos a velocidade para não levantar poeira, cumprimentamos e seguimos, ritmo passeio para aproveitar as paisagens.
O tempo fechou, esfriou e começou uma chuvinha marota, o suficiente para, em determinada subida simples, a lama se acumular e dificultar a subida. Um terreninho foi comprado por um dos integrantes do grupo. Devagar, a moto começou a patinar, saiu de traseira e a moto deitou, só isso. Ajuda para levantar e subir o resto com cuidado, segue o bonde!
A partir do momento que a chuvinha foi caindo, terrenos diferentes foram surgindo, subidas e descidas, mas sem maiores dificuldades. O ponto positivo foi que a poeira sumiu e ficou mais fresco, mas passou.
A subida de Tocos do Moji é linda e o ponto alto é conhecido como “Porteira do Céu”! Uma paisagem maravilhosa que merece ser registrada antes de começar a descer tudo. Quem está a pé ou de bike, deixa muito suor para chegar até aqui e, por sorte, não havia mais chuva.
Nossa próxima parada foi em Consolação, por volta das 15hs. O tempo deu outra virada e começou novamente uma chuvinha, o que nos ajudou a fazer uma parada, pois o frio também veio junto.
Por sorte, o Maurício conhecia o Restaurante Santo Sabor e nos “obrigou” a parar, ainda bem! É parada obrigatória para almoçar.
Ele está dentro de um posto de gasolina e não chama atenção mas…quem para ali, é surpreendido! Quem nos atendeu com muita simpatia foi a Adriana, e já avisou: “Se vierem de novo, liguem e encomendem um arroz caipira”. Apesar de termos comido uma Truta recheada maravilhosa, fiquei curioso! Portanto, se for ligue: 35-99896-9123.
Dali em diante a preocupação ficou com a Serra da Luminosa que, com chuva ficaria quase impossível! Mas o roteiro me surpreendeu de novo com uma estrada incrivelmente linda, com muita paisagem e sempre, pouquíssimo movimento, até chegarmos à famosa Luminosa, onde decidimos acertadamente dormir na Pousada da D. Inês. Ela está a 200 metros do ponto crítico desse trecho, uma subida bem íngreme que, se molhar, vai dar trabalho.
Uma vez na pousada, muitos peregrinos chegaram a pé e de bike, lotou! Sorte que o Maurício havia reservado nossos quartos! Casa cheia, bom papo, comida caseira, banho quentinho e cama! Nesse local encontrei uma pessoa que não via há mais de 20 anos, conheci outras que moravam na cidade vizinha, enfim, esse mundo é muito pequeno! Encontramos com o grupo de motos da foto em Ouro Fino novamente! Sensacional!
Segundo dia
Acordamos tranquilos, mas o movimento começa cedo, antes do sol até, pois o pessoal está a pé e de bike! Nós estávamos mais tranquilos mas, esquecemos o tampão de ouvido e acordamos junto com eles!
Café tomado, muito bom por sinal, conta paga, encontramos um grupo de Itapira que estava com motos e um jeep Bandeirantes de apoio. Haviam saído às 22hs de Itapira e rodaram a madrugada toda, parando para um cochilo em algum posto do caminho.
Seguimos para enfrentar a Luminosa que foi bem tranquila, estava seca e tínhamos sol! Perfeito! O visual durante a subida exige algumas paradas para registrar e, numa dessas, conhecemos o @casaminhosdafe! Um casal que se conheceu pedalando e resolveram casar no Caminho da Fé! Ele com uma gravata e ela de grinalda pedalando! Giovana e Éder estavam se divertindo e, muitos simpáticos, fazendo o casamento do jeito deles. Quem casa assim, nem vai ter perrengue pela frente…
Seguimos com mais paradas, fotos e papos até Campos, onde paramos para abastecer. A África Twin 1100 DCT fez uma média de 15,6 km/litro no percurso de 250 km. Achei bem satisfatório para um roteiro onde existem muitas mudanças de marchas e se trabalha com o giro do motor mais alto. Sem contar que é cheio de sobe/desce o tempo todo! O câmbio DCT ajudou bastante, pois a mão estava sempre firme nas manoplas, era só deixar no modo esporte, ABS e Controle de Tração desligados e seguir.
Cruzamos Campos do Jordão com trânsito e movimento, tão pouco tempo mas já estavam irritando! Impressionante como o sossego é bom!
Seguimos sentido Horto para entrar na terra novamente e os visuais começarem. Muitos pinheiros, montanhas de todos os lados e uma estradinha muito legal, diria que foi o trecho que mais se parecia com uma trilha ampla do que uma estrada de terra mesmo. Paradas para fotos, vários “bom dia” e “boa viagem” e surge um pneu furado da viagem. O sensor da moto do Ale sinalizou pressão baixa e bingo! Um senhor parafuso estava cravado no pneu, ficamos surpresos!
Para roteiros assim, temos que estar preparados, em 20 minutinhos o pneu estava remendado e calibrado para seguir viagem! Obviamente que rindo o tempo todo mesmo com a fome batendo forte. A neblina estava surgindo também, dando um visual diferente.
Descendo a famosa “descida das pedrinhas” que, como diz o nome, é cheia de pedrinhas, pedras, pedronas e curvas, muitas curvas.
Chegamos ao bairro do Gomeral e ali era a parada para se alimentar! Um pão de queijo recheado com ovo, tomate e mussarela, mais um açaí com laranja e um capuccino foram nosso combustível para terminarmos o roteiro! E funcionou muito bem! O local se chama Café no Caminho! #ficaadica
Do Gomeral para baixo já chega um trecho com asfalto e, mais abaixo, já no plano, um rio à nossa esquerda ativou o modo “diversão” e fomos ver se dava para atravessá-lo. Pedimos permissão e tudo ok! Foi divertida a brincadeira, mas, vale ressaltar que não faz parte do Caminho da Fé, foi só para se divertir!
Seguimos adiante e entramos na terra novamente, já bem próximos ao nosso destino, a basílica de Aparecida do Norte que já podia ser avistada.
Devido ao movimento e ruas interditadas, sofremos um pouco para chegar à basílica, mas chegamos! Paramos no estacionamento de motos (R$14,00/moto) e tivemos uma caminhada até chegar a capela arregando capacete, jaqueta, mochila, enfim, isso poderia ser repensado, um estacionamento mais próximo e um guarda volumes ajudariam bastante, até porque, mesmo lá não dá para ter fé suficiente que suas coisas, se deixadas na moto, estarão lá quando voltar!
Feito nossos agradecimentos, era a hora de voltar, eu para São Paulo e Maurício e Alexandre, no sentido de Campos do Jordão. Objetivo concluído com louvor!
Os três que fizeram o caminho voltaram com uma certeza, vamos fazer de novo!
↑ Back to topTrinity Ronzella
14 anos fotografando e escrevendo para a Revista Moto Adventure Editor do Moto.com.br Freelancer na Revista Motociclismo Instrutor de Pilotagem Off Road
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2 Comments
Claudio Oliveira
–Show de texto e de Roteiro! Está no meu radar há meses …
Trinity
–Valeu Claudio! Ano que vem vamos de novo, algumas vezes! Não deixe de ir! Abraço!